Porque o bacalhau é o peixe-rei da mesa portuguesa, um dos alimentos preferidos e de maior destaque na nossa gastronomia, não consigo explicar.
Mas suspeito que a sua incrivel versatilidade, sabor e potencial, façam com que seja tão adorado, consumido numa média de 7kg/ano por cada português e confeccionado das formas mais díspares, variadas e interessantes do que qualquer outro ingrediente.
Mas nem sempre pude dizer isto deste peixinho que não pode faltar nas cozinhas portuguesas.
O bacalhau era simplesmente o alimento que mais odiava em miúda. E não estou a exagerar o sentimento, não. Simplesmente não o suportava. Do seu cheiro ao sabor ou textura, tudo era horrivelmente mau naquele peixe. 
Ao ponto de desenvolver as peripécias mais engraçadas quando me obrigavam a come-lo na escolinha. Um verdadeiro filme que não vale a pena estar aqui a relatar, para não impressionar estomagos mais sensíveis. 
É-me impossível explicar esta repulsa, e ainda hoje não consigo saber quando comecei a aceitar e mais tarde a adorar bacalhau. 
Sim, porque hoje sou daquelas pessoas que vai propositadamente a um restaurante especialista em bacalhau para me deliciar com uma boa posta. Algo que me impressionava imenso em miúda e um hábito que os meus pais tinham: pedir bacalhau num restaurante! Como era possível?!?
Posto isto, esta 17ª edição do desafio “Dia 1… Na Cozinha” teve a capacidade de me fazer recuar no tempo, e se calhar até me redimir, assumindo declaradamente o quanto era injusta com este grande alimento.
Podia ter optado por respeitar a bela da posta e fazer um pratinho mais imponente e elegante, mas admiro estas diferenças culturais, e já andava de olho nestes sabores. 
Foi uma forma diferente de o confeccionar, e melhor ainda, pôr os homens da casa, principalmente o pequenito, que ainda embola imenso o bacalhau na boquita, a come-lo sem reclamações.
O Vatapá é um prato brasileiro, típico da baía, porém de influências africanas. Caracterizo-o como uma forte e bem rica açorda, com sabores marcantes e uma textura cremosa. 
Depois de algumas pesquisas, onde encontrei receitas com as suas disparidades habituais, criei a minha versão, mais ajustada aos nossos gostos.

Apreciamos muito o resultado e fica a sugestão de mais uma maneira, talvez a nº35.728, de confecionar este nosso delicioso amigo.

Espero que gostem!

  

VATAPÁ DE BACALHAU E CAMARÃO

INGREDIENTES
(4 pessoas)

3 postas grandes de bacalhau demolhado
20-25 camarões médios cozidos
3 fatias de pão de forma sem côdea
1 cebola grande
3 dentes de alho
1/2 pimento vermelho
1 pimento verde
1 tomate grande maduro
Polpa de tomate (se necessário)
1 raminho de salsa
2 col. sopa de caju triturado
150 ml de leite de côco
Sal
Pimenta
Gengibre em pó
Coentros em pó

PREPARAÇÃO 

Retirar a pele e as espinhas ao bacalhau e desfia-lo. Descascar o camarão. Reservar.
Levar a triturar a cebola, o alho, os pimentos e a salsa. Pelar, abrir e retirar as sementes do tomate e tritura-lo também. Reservar.
Desfazer o pão em pedaços pequenos e colocar de molho uma taça com água.
Numa frigideria anti-aderente colocar um fio generoso de azeite e levar o bacalhau, escorrido, a alourar durante 3-4 minutos. 
Acrescentar a mistura da cebola com os pimentos e deixar cozinhar uns 5 minutos. Temperar com sal, pimenta, uma pitada de gengibre e de coentros.
Adicionar o tomate, o caju, o camarão e o leite de côco e deixar cozinhar mais 2-3 minutos. Adicionar o pão, escorrido, e envolver bem. Rectificar temperos e deixar cozinhar no máximo 5 minutos, até o molho começar a reduzir. Se eventualmente secar demais acrescentar um pouco de polpa de tomate.
Retirar do lume, polvilhar com salsa picada e servir acompanhado de arroz branco soltinho.

Nota: coloquei menos pão do que as receitas que encontrei, na generalidade, sugeriam. Talvez por isso tenha ficado menos cremoso em termos de aspecto. 
Para agradar a todos subsititui os coentros frescos por salsa.
Nota_1: É importante ter nocção de que começando a arrefecer engrossa bastante, pelo que deixei com algum molho.

Para uma vivência mais fiél do prato, esta é a sugestão deixada numa das receitas que encontrei: “Servir com aquele jeito de moça faceirosa, paquerando os moços bonitos do pedaço, sem largar o rapaz direito que é seu namorado.” 
Fica ao critério! 🙂