Ainda que admita que sou muito pouco dada a sovar massas e esperar 7 horas e meia por levedações e afins. Ainda que assuma sem constrangimentos que tenho na minha máquina do pão uma grande amiga, a quem recorro frequentemente. E ainda que receie sempre a textura deste tipo de bolo lêvedo, nunca deixaria passar a 3ª edição do nosso Sweet World sem fazer o desafio proposto pela minha companheira de doces brincadeiras, a querida Lia. Uns jeitosos Hot Cross Buns.

É um tipo de bolinho que se afasta do que normalmente gosto de fazer e do que considero que puxa por mim. Mas se o desafio não é mesmo contrariar algumas destas preguiças e limitações, então qual é?
Desta feita, lá encaixei na agenda um tempinho para me dedicar a estes meninos, pois desta vez tinha de fazer tudo à séria. Com as mãos. Bem envolvido, bem amassado, bem levedado.
Relativamente ao enquadramento histórico dos Buns, que são um doce cheio de misticismo e carácter religioso, ligados à época da Páscoa, podem ler a óptima resenha que a Lia fez aqui.
Tenho de admitir que, depois de um ou outro susto e dúvidas que me assolaram durante o processo de execução, acabei por gostar imenso do resultado. Tanto visualmente como ao nível do sabor. A massa é leve, pouco doce e super aromática. Não se torna seca e, com esta receita em particular que leva maçã na massa, mais ligeira se mostra. Contudo, são melhores fresquinhos e fofinhos, comidos no próprio dia. No dia seguinte gostei mais torradinhos.
Fizeram as delícias dos homens da casa e fizeram-me feliz a mim, por ver que se quisermos conseguimos facilmente encarar desafios que normalmente nos afugentam, e vergar com sucesso umas simples e queridas bolinhas cruzadas, por exemplo.

Não vos desejo Boa Páscoa porque além de já não fazer sentido, estes buns combinam maravilhosamente com um qualquer lanchinho de fim de semana, com um qualquer pequeno almoço de dia de trabalho, ou, melhor ainda, com uma qualquer lancheira de escola. 
E é vê-los sorrir. 

HOT CROSS BUNS
(Adaptada da receita Hot Cross Buns, do livro “How to Bake“, do Paul Hollywood)

Ingredientes
(10 buns)
|Massa
500 gr de farinha (sem fermento)
10 gr de sal
75 gr de açúcar
10 gr de fermento de padeiro
40 gr de manteiga
2 ovos médios
120 ml de leite morno
120 ml de água fria
100 gr de pepitas de chocolate negro 
Raspa de laranja
Raspa de limão
1 maçã média, descascada e ralada
1 colher (sobremesa) de canela
|Cruz
75 gr de farinha
75 ml de água
|Glaze
1 colher (sopa) de doce de alperce
Água
Preparação
Num recipiente largo colocar a farinha. Acrescentar o sal e o açúcar num dos lados e o fermento no outro. Adicionar a manteiga, os ovos, o leite e metade da água e começar a envolver tudo delicadamente com os dedos. Ir adicionando a restante água aos pouco e envolvendo bem a massa até a farinha ficar totalmente absorvida e a massa começar a descolar das paredes. Quando estiver mais homogénea passa-la para uma superfície enfarinhada e amassar durante cerca de 5 minutos. (a massa fica bastante pegajosa e algo difícil de trabalhar nesta fase, pelo que, se pode recorrer à ajuda da farinha para facilitar).
Formar uma bola e colocar a massa dentro de um recipiente ligeiramente untado com óleo. Tapar bem tapado com um pano grosso ou uma toalha, e deixar levedar em local de temperatura amena e resguardado de correntes de ar, uma hora no mínimo (idealmente duas ou três), até que duplique o volume.
Passado este tempo voltar a colocar a massa numa superfície enfarinhada e juntar as pepitas de chocolate, as raspas dos citrinos e a maçã, e envolver bem sem precisar bater muito a massa. Coloca-la novamente no recipiente por mais 1 hora.
Ao fim deste tempo colocar novamente a massa na superfície enfarinhada e molda-la dando-lhe uma forma cilíndrica, de modo a poder-se cortar fatias que se moldarão em bolas.
Cortar em 10 fatias (a receita indicava 12) e arranjar a massa para ficar com forma de bolinho.
Dispor num tabuleiro de forno previamente forrado com papel vegetal, com um afastamento de cerca de 3 cm entre elas (ter atenção que a massa cresce durante a cozedura e elas juntam-se). Tapar o tabuleiro com um pano e deixar a levedar mais cerca de 1 hora (neste passo deixei apenas 20 minutos) até que os bolinhos aumentem de tamanho.
Pré-aquecer o forno a 220ºC.
Entretanto fazer a pasta para a cruz, juntando a água com a farinha e mexer muito bem até obter uma pasta homogénea. Colocar a pasta numa seringa ou saco de pasteleiro com bico fino e fazer uma cruz nos bolinhos.
Levar o tabuleiro ao forno cerca de 30 minutos ou até a massa estar bem douradinha.
Retirar do forno e, ainda quentes, pincelar com o doce de alperce diluído num fio ligeiro de água.
Servir morninhos.  
Nota: em relação à receita original substitui as passas pelas pepitas de chocolate, retirei a casca de laranja picada e introduzi casca de limão.
Note_1: é uma massa um pouco difícil de trabalhar, no sentido de se mostrar inicialmente bastante pegajosa, mas começando a repousar torna-se mais fácil.
Nota_2: não se assustem se a cruz desaparecer no início da cozedura, pois assim que a massa começar a dourar ela fica visível novamente. Para um efeito mais definido aconselho a carregar mais na quantidade de pasta.