Assumimos que queríamos abrir o segundo ano do Sweet World com um doce mais próximo de nós. Próximo geograficamente, próximo gastronomicamente e bem próximo visualmente e ao nível das nossas memórias.
A decisão foi ponderada entre duas opções, acabando por vencer esta que já tinha figurado na nossa vasta lista para apresentar em edições anteriores. Foi adiado mas nunca poderia ser esquecido. E apesar de ser o primeiro desafio em que o tema não é uma estreia nesta cozinha, fiquei igualmente em pulgas para o fazer.

Tenho dificuldade em classificar o São Marcos, o bolo que dá forma ao tema desta 13ª edição, dentro do contexto da doçaria nacional. Pelo facto da pouca informação existente sobre ele lhe dar origem espanhola (ainda que não tenha conseguido encontrar referências à sua história) e porque é um doce que nos habituamos a ver nas montras das nossas pastelarias mas que nunca foi conotado como tipicamente português.
É daqueles bolos que simplesmente sempre ali esteve. Normalmente aos quadradinhos, era algo entre o bolo e o semi-frio, onde a mescla entre o doce de ovos e o caramelo se destacava.

Curiosamente foi um bolo que nunca fiz grande questão de experimentar, principalmente quando ladeava outras opções que puxavam muito mais por mim. Sempre o olhei com aquele ar de “aiii que me pareces tão artificial!”, e por este motivo era preterido.
Até que um belo dia o encontro a embelezar um blog que tanta inspiração nos dá, o Sabores da Alma, e toda a minha perspectiva sobre este doce muda.
A Vânia executa-o e apresenta-o de uma forma tão envolvente que é impossível não ter vontade de o provar. A sua receita foi a que sempre segui e que continua a deliciar cá por casa, tendo até dado origem a um dos primeiros posts do blog.

Entendo não ser um bolo de execução difícil, apenas apresenta vários elementos e técnicas distintas a respeitar.
Estruturalmente temos então 4 elementos que se distribuem da seguinte forma:
– Bolo na base/fundo
– Creme de natas no recheio
– Bolo no topo
– Doce de ovos como primeira cobertura
– Caramelo como segunda cobertura

Pelos ingredientes facilmente se percebe o incrível jogo de texturas e sabores que nos oferece. São sabores intensos que se opõe a texturas ligeiras. Esta dualidade foi o que sempre mais me cativou neste bolo. O creme de natas é fresco, macio e delicioso, e a massa de bolo, bem fôfa e ensopada pela cobertura dupla gera uma combinação única e arrebatadora.

Esta não foi, definitivamente, a vez que me calhou mais perfeito, mas ficou de tal forma leve, tanto ao nível da massa do bolo como da creme de natas, que foi dos resultados que mais gostei.
Sendo um bolo com camadas de naturezas diferentes sabemos bem que as suas densidades tem de apresentar algum equilíbrio para que o corte seja bem sucedido. Podia ter carregado mais na gelatina para garantir maior firmeza ao creme, podia ter saído uma massa eventualmente mais presa e menos fôfa, e tinha garantias que a fatia sairia perfeitinha, mas seguramente não me iria dar tanto gosto saborear toda esta delicadeza. Ficou um pouco frágil, de facto, mas no ponto certo para o meu paladar.
Só para ficarem descansados, não tenham pena de todo aquele caramelo espalhado no cenário. Garanto-vos que foi todo recuperado.

Este é um bolo que mostra como poucos que com a receita certa e a dedicação necessária todos os doces se podem transformar, passando de um mero artificial figurante de montra de pastelaria a uma deliciosa e caseira opção para a sobremesa perfeita.
Pode não ser o doce do mundo mais famoso e reputado, ficando a sua actuação aqui pela Península Ibérica, mas é um doce que considero merecer mais protagonismo de qualidade, pois é demasiado bom para não ser devidamente explorado e divulgado.

Se aceitam este desafio basta seguirem as seguintes regras:

  • Tem até ao dia 20 de Fevereiro para nos apresentarem o vosso São Marcosdeixando aqui neste post o link da vossa participação;
  • Só participações enviadas até este dia serão consideradas;
  • Neste mesmo dia, 20 de Fevereiro, será publicado no blog da Lia o tema da próxima edição;
  • round up desta 13ª edição será publicado aqui no blog no dia 25 de Fevereiro.

BOLO SÃO MARCOS

(Receita aqui)

Ingredientes

(10-12 fatias)

|Massa de bolo
2 ovos
50 gr de açúcar amarelo
50 gr de farinha (usei com fermento)

|Recheio
200 gr de leite condensado
4 folhas de gelatina
200 ml de natas para bater
1 colher (café) de extracto de baunilha

|Cobertura
3 gemas
3 colheres (sopa) de açúcar
3 colheres (sopa) de água
Caramelo líquido qb

Preparação

Pré-aquecer o forno a 180ºC. Preparar duas formas de 18 cm de diâmetro de aro amovível, untando com manteiga e polvilhando com farinha. Reservar.
Começar pelo bolo, batendo os ovos com o açúcar até se obter um preparado bem fôfo e mais esbranquiçado. Acrescentar a farinha peneirada e envolver com uma espátula. Sem bater.
Dividir a massa, em quantidades iguais, pelas duas formas e levar ao forno cerca de 15 minutos, até a massa estar douradinha. Retirar do forno, deixar arrefecer e desenformar um dos discos. O outro pode continuar na forma para receber posteriormente o recheio.
Para o recheio, começar por bater as natas até ficarem bem firmes. Colocar no frio enquanto se prepara o restante. Num recipiente hidratar/mergulhar a gelatina em água fria durante 5-7 minutos. Findo este tempo escorrer bem as folhas e juntar a 2-3 colheres de sopa de água a ferver, mexendo até que estejam completamente diluídas. Verter o leite condensado para um recipiente e juntar a gelatina e o extracto de baunilha e bater um pouco. Por fim acrescentar as natas batidas e envolver com cuidado.
Verter o preparado sobre a base de bolo que ficou na forma e levar ao frio até solidificar, preferencialmente durante toda a noite.
Quando o recheio estiver firme colocar o segundo disco de bolo por cima e levar novamente ao frio.
Para o doce de ovos juntar o açúcar e a água e levar ao lume até formar uma calda ligeira. Bater as gemas apenas para ficarem uniformes e verter a calda lentamente por cima para destemperarem, mexendo sempre. Levar a gemada ao lume, mexendo sempre, até engrossar ligeiramente. Retirar do lume, deixar arrefecer e verter sobre o bolo. Voltar a coloca-lo no frio para prender o doce de ovos.
Quando o doce estiver mais firme espalhar um pouco de caramelo por cima, a gosto. Fazê-lo com cuidado para que não se misture com o doce de ovos. Levar novamente ao frio.
Para desenformar passar uma faca bem fina nas laterais, muito cuidadosamente, de forma a soltar o creme de natas e retirar o aro da forma. Transferir com cuidado para o prato de servir.
Conservar no frio e servir fresco.

Nota: Pessoalmente tento sempre que os discos de bolo não fiquem muito altos pois acho que beneficia o doce.
Nota_1: O bolo pode ser feito numa só forma e depois cortado ao meio em 2 discos, como indica a receita original. Contudo, prefiro fazer em duas formas separado para garantir que não o destruo no corte.